Com o aproximar da época balnear e com o calor à porta, os temas de esplanada começam a circular em torno de exercício físico, dietas e a construção do corpo «perfeito». Contudo, todas estas etapas têm um obstáculo como denominador comum: resistir aos doces e aos alimentos gordurosos. "Não consigo resistir a um bocado de chocolate"; "Eu bem tento e só começo a comer uma ou duas batatas fritas...mas quando dou por mim já comi um pacote".
Porque é tão difícil resistir a este tipo de alimentos?
Apresento-vos, sumariamente, duas hipóteses a terem em conta:
1 – Herança Histórica: Segundo o Evolucionismo, e a própria Psicologia Evolucionista, no meio natural no qual os nossos ancestrais coabitaram, os alimentos disponíveis eram escassos em gorduras ou açúcares (como é fácil de perceber) e os nutrientes eram pouco concentrados nos alimentos disponíveis. Assim, era necessário despender de uma grande porção de tempo e energia na procura de alimentos para suprir as necessidades de gorduras e açúcares. Devido a esta dificuldade, quando estes alimentos eram encontrados e alcançados, ocorria um consumismo em grande massa uma vez que não se poderia prever quando os encontrariam novamente. Para além desses factores, as calorias e as gorduras/açúcares (que acabavam por nunca ser em excesso) eram queimadas devido ao tipo de vida que os nossos ancestrais levavam, ao contrários do sedentarismo presente na sociedade actual (ver televisão com um pacote de batatas fritas ao lado).
O que se verifica actualmente é que o Homem do Séc XXI continua a enveredar pelo consumo de alimentos gordurosos e açucarados como se esses fossem escassos no meio ambiente e como se exigissem um grande esforço físico. Será, assim, compreensível a taxa de obesidade mórbida que se tem vindo a observar nos últimos anos.
2 – Comportamentalismo: A segunda hipótese explicativa remete para as Teorias Comportamentalistas (assim, neste artigo vou deixar de lado a Psicanálise, baseando-me exclusivamente na teoria comportamental Estímulo-Resposta e da Influência Social de Bandura).
No que remete para os maus hábitos, a influência social apresenta um grande impacto no nosso estilo de vida e, subsequentemente, nos nosso padrões comportamentais. Pensem em situações em que tentamos deixar de fumar mas num encontro entre colegas, começam a puxar do cigarro e, então, a restrição torna-se difícil ou quando tentamos fazer dieita e um amigo faz anos, e nos presenteia com um banquete suculento de chorar por mais. Mas a componente social não é a única (já não podemos culpar os outros!). Para além deste factor, verifica-se igualmente um reforço positivo de prazer imediato com estes alimentos. Ou seja, ao ingerirmos um chocolate, a estimulação prazerosa é imediata, sendo que a resposta exige pouco esforço, não sendo necessário mastigar algumas vezes para sentir o verdadeiro sabor, ao contrário de uma ementa vegetariana onde, a nível de estimulação, a maioria dos alimentos necessitam de serem saboreados e digeridos num processo um pouco mais arrastado no tempo para se obter o referido prazer gustativo.
Além disso, o Príncipio do Prazer (ups, lá me deixei ir para a psicanálise) encontra-se visivelmente presente neste tipo de alimentos gordurosos e doces, isto é, a satisfação é imediata e encontra-se sempre garantida – uma tablete de chocolate da marca X terá sempre aquele sabor, será sempre saboreada, será sempre apreciada. Enquanto que uma salada, um peixe grelhado, depende de várias variáveis: qualidade do peixe, como de temperar, modo de grelhar, como é servido. Com os doces, ainda que os caseiros dependam analogamente, do processo de preparação, a estimulação gustativa é maioritariamente instantânea (a grande percentagem de hidratos de carbono, os chamados açucares, é decomposta logo na boca. Assim se explica o porquê de as pessoas que ingerem doces em grandes quantidades e depois vomitam – como acontece na Bulimia – nunca têm uma aparência de magreza equiparável à Anorexia uma vez que os açucares já foram, de facto, digeridos, na sua grande parte, pelo organismo).
Como conclusão, algo pessimista, refiro que estamos condenados a apreciar com grande satisfação doces ou alimentos gordurosos. Todavia, depois deste artigo, poderão deixar de se culparem a vocês ou aos outros por estragarem a dieta. Culpem os vossos ancestrais e os vosso processos gustativos e neuronais.
É mais fácil de lidar com isso.