quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Balanço Trimestral do Blog... com Humor


Após 3 meses de produção, o Estranho Quotidiano angariou  cerca de 50 seguidores e de 2.500 visitas. 
Um obrigado a todos os leitores que vão fazendo este espaço crescer a cada momento com as apreciações e opiniões. Aproveito este artigo para reforçar que são bem-vindas sugestões de temas que gostariam de ver debatidos neste espaço ou críticas, sejam elas negativas ou positivas, de como se tem vindo a desenvolver este blog.

Cumprimentos,
Cláudio

PS: Deixo agora aqui um momento humurístico



Bem-vindo à Linha Telefónica de Psicologia!
Se é obsessivo-compulsivo, por favor carregue no 1 repetidamente.
Se é dependente, por favor peça a alguém para carregar no 2.
Se tem múltiplas personalidades, por favor carregue no 3, 4, 5, e 6.
Se é paranóico-delirante, sabemos quem você é e o que quer. Por favor mantenha-se em linha para que possamos identificar a chamada.
Se é esquizofrénico, ouça com atenção e uma pequena voz dir-lhe-á em que número carregar.
Se está deprimido, não interessa em qual número carregar. Ninguém responderá.
Se está delirante e ocasionalmente tem alucinações, por favor esteja consciente de que a coisa em que está a segurar junto à sua cabeça está viva e prestes a morder-lhe a orelha. 

Neurótico VS Psicótico 
Um psicótico pensa que dois mais dois são cinco.
Um neurótico sabe que dois mais dois são quatro - mas detesta-o. 

Quantos psicólogos são necessários para mudar uma lâmpada?
1- Nenhum. A lâmpada mudar-se-á quando estiver pronta para isso.
2- Apenas um, mas a lâmpada tem que querer ser mudada.
3- Apenas um, mas necessita de nove visitas.
4- Quantos é que achas que são necessários? 

Perfil do Psicólogo 
Psicólogo não adoece, somatiza.
Psicólogo não estuda, sublima.
Psicólogo não conversa, pontua.
Psicólogo não fala, verbaliza.
Psicólogo não faz sexo, liberta a libido.
Psicólogo não é indiscreto, é espontâneo.
Psicólogo não passa vergonha, surta.
Psicólogo não tem ideias, tem insights.
Psicólogo não resolve problemas, fecha gestalts.
Psicólogo não pensa nisso, respira nisso.
Psicólogo não muda de interesse, muda de figura e fundo.
Psicólogo não come, internaliza.
Psicólogo não pensa, abstrai.
Psicólogo não é gente, é um estado de espírito.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

(Des)construindo o Amor

Neste dia tão aclamado e emocionalmente consumista que, pessoalmente, não contemplo com grande interesse, vou-me desleixar e não escrever nada pessoal sobre este dia dos Namorados e sim, partilhar, um artigo interessante que li há pouco tempo num espaço semelhante a este, chamado Significantes. Coloco o link no final do artigo. Espero que vos faça pensar.

O artigo chama-se, justamente:
 
(Des)Construindo o Amor 


“Nada é perfeito”.

Repetimos esta frase-clichê como papagaios, sem de fato levá-la a sério.

Síndrome de Cinderela, efeito colateral de quem assiste novelas, exigências em excesso, ou, seja lá como se possa chamar isso, o fato é que cada pessoa nesse mundo, quando se trata de amor, no fundo acredita que vai achar a sua cara metade, a tampa da sua panela, o seu príncipe encantado.

E não me parece que a culpa seja do Walt Disney, do Silvio de Abreu, do Manoel Carlos ou do fabricante da Barbie. Talvez seja estrutural.

Seres incompletos afetivamente, nós crescemos pensando que alguém/algo nos completará.

Inicialmente, quando crianças, há quem fantasie que o nascimento de um irmão possa suprir essa falta. Depois há quem queira um amor, não, não era bem esse, e nem esse, e nem aquele, e por aí vai. Pulando de amor em amor, ou/e queixando-se eternamente.

Volta e meia, escuto as pessoas dizerem – Ah, mas nada é perfeito! – em tom de lamentação.

Mas felicidade não é se conformar com o pouco que se tem. Ser feliz é coisa de outra ordem.

Saber, de fato, que nada é perfeito é um modo de felicidade. É ouvir o que dizemos. É nos levarmos a sério sem perder a leveza.

Apaixonar-se é um convite ao outro para atingir a perfeição, inalcançada sozinho. É um convite para atingir a perfeição, aquela inatingível. É, assim, também, um convite à frustração. E ela chega. É aí, então, que o outro aparece despedaçado, como sempre foi. Mas de repente, aquilo que deveria ser óbvio, vira novidade.

Há que se elaborar o luto da morte daquele amado, daquele ser que foi idealizado. E, talvez, seja só aí que o amor pode nascer. A partir da desconstrução do ideal do outro, ou de pelo menos, parte dele. O (verdadeiro) amor nasce do luto.

Fonte: http://significantess.blogspot.com/2011/02/des-construindo-o-amor.html

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quem tem medo do Lobo Mau?

O conto do Capuchinho Vermelho é uma das obras infantis que podem ser retratadas a partir de diversos conceitos psicanalíticos que nos fazem compreender com que principio vamos regendo a nossa vida, isto é, se pelo Princípio do Prazer, se pelo Princípio da Realidade. 

Não me alongando em demasia nestes conceitos cunhados por Freud no ano de 1911, o Princípio do Prazer verifica-se a partir do desejo de termos prazer no imediato, no aqui-e-agora. O adiamento da gratificação ainda não se encontra interiorizado e, assim, sente-se necessidade de se ceder para um prazer imediato. Como por vezes este palavreado todo apenas complica, esclarecerei com um exemplo típico do quotidiano: a época dos Saldos:

Imaginem a situação de uma senhora que passeia pelo centro comercial e vê umas calças deslumbrantes com que se apaixona de imediato. Dirige-se a uma das empregadas da loja, questionando "quanto custam este par de calças?" ao que a empregada responde "custam 50 euros mas estarão em saldos para a semana que vem". Diversas são as pessoas que, regendo-se pelo Princípio da Realidade, conseguem adiar a gratificação e comprarão as ditas calças passado uma semana. Contudo, para outras pessoas, esta espera pode ser tortuosa devido à angústia que essa espera comporta, onde dúvidas como "se calhar as calças já não estarão cá / é melhor comprar já antes que alguém as compre" são frequentes. Assim, regendo-se pelo Princípio do Prazer, desembolsam, de imediato os 50 euros.

No conto do Capuchinho Vermelho conseguimos traçar dois cenários possíveis para a protagonista principal quando a mãe lhe pede para ir levar um lanche à sua avó:

A) Percorrer a beleza da floresta, com toda a beleza poética que lhe é característica (pássaros, flores, borboletas, etc), isto é, cedendo ao Princípio do Prazer representado pelo Lobo, que permite uma fuga ao seu lar seguro e confortável: «Olha como são bonitas as flores à tua roda. Porque não dás uma vista de olhos? Andas com um só propósito e uma tal concentração, como se fosses para escola, enquanto tudo o resto aqui na floresta é tão belo.»

B) Percorrer o caminho referido pela Mãe que representa o Princípio da Realidade, como o mais seguro: «Caminha com cuidado, não saias da estrada. E quando chegares a casa da avó não te esqueças de lhe dar os bons dias e não comeces a vasculhar por toda a parte»

Como todos conhecem a história do Capuchinho Vermelho, não tenho a necessidade de explicar detalhadamente o desenrolar da história. O Capuchinho Vermelho cede ao Princípio do Prazer, desprezando as figuras Maternas (representadas pela Mãe e pela Avó) constituindo-se, assim, um conflito edipiano: desejo de autonomia / procura de prazer e morte simbólica do progenitor.

Para além destas personagens, surge uma outra que, normalmente, é sempre deixada para segundo plano (sabe-se lá porquê), que é a personagem do Caçador. Comummente é apenas mencionada no final da história com uma breve passagem "e surgiu um caçador que matou o lobo e salvou a pobre menina" bla bla bla.

Contudo, no plano estrutrural da história surge como um marco relevante pois é, juntamente com o Lobo, o constituinte da Figura Masculina que se desdobra, assim, em dois polos:

1- O desejo, a sedução, o prazer, representado pelo Lobo
2 - A responsabilidade, a dureza, o heroísmo paterno representado pelo Caçador

Estes dois pólos representam as duas faces da Figura Paterna: o Herói destemido das crianças que, até uma cerca idade, acreditam que consiga fazer tudo, e por outro lado, a imagem de sedução das meninas mais novas (é curioso ver como algumas se gostam de produzir e maquilhar e desfilar pela sala de estar enquanto o pai observa, ou quando abraçam o pai e dizem que querem casar com ele).

Somos presenciados, assim, com o clássico complexo de édipo feminino onde para a menina a Figura Materna (mãe e avó) são postas de parte pois negam-lhe o prazer, e procuram a sedução do elemento do sexo oposto, do pai, neste caso representado pelo Lobo.

Bruno Bettelheim, psicanalista francês, faz uma nota a respeito da importância da cor – vermelho, como simbolismo das emoções violentas e sexuais, referindo, igualmente, a relevância do diminutivo – capuchinho e não capucho, de modo a reforçar a imaturidade da menina. Ela é pequena demais para lidar com as suas energias emergentes, com as suas tendências «vermelhas». O perigo, para ela, é pois, a sua sexualidade nascente, fonte ambivalente de salvação e ameaça destrutiva. Ela luta dividida entre o sua vontade consciente de fazer o que é seu dever e o desejo inconsciente de triunfar sobre a avó (simbolicamente a Mãe).

A sedução atinge o auge quando a menina se deita na cama com o lobo e, posteriormente, o lobo a engole. É como se o conflito edipiano chegasse ao fim. Depois da rejeição à Figura Materna e entrega ao Princípio do Prazer, o Capuchinho percebe os seus riscos e sai do ventre do Lobo através de um Pai heroico. O Capuchinho Vermelho renasce nesta etapa vital. Já não é a menina que passeia pela floresta emersa na fantasia, entregando-se constantemente ao Princípio do Prazer e de todos os perigos que o comporta, mas já consegue fazer a transposição para o Princípio da Realidade.

Este é um dos mais belos contos infantis que retratam, com todo o simbolismo que é característico, a maturação psíquica na terna infância que poderá condicionar as escolhas futuras num desenvolvimento mais tardio. Contudo, não é invulgar, encontrar sujeitos, neste estranho quotidiano, que ainda permanecem perdidas na floresta encantada, num jogo de sedução seja com elas próprias como para com um Lobo que as impede de alcançar o Princípio da Realidade.