quarta-feira, 13 de julho de 2011

Depressão vs Melancolia: Algumas Notas


Conceitos como tristeza, depressão, melancolia encontram-se intrincados no seio da nossa comunicação, presentes no dia-a-dia, vulgarmente confundidos ou reduzidos ao mesmo.

A tristeza aparece quando se perde algo ou alguém a que se estava fortemente ligado. Contudo, quando esse algo que se perdeu era já era visto como incerto e apenas mantido por uma crença relacionada a um sentimento de omnipotência, a tristeza é sentida, mas negada a realidade da perda – ou, mais precisamente, negado o sentimento de perda. E assim se instala a depressão. 

A depressão é, assim, a negação do sentimento de perda; está-se triste sem saber porquê.

Quando se perdeu alguém de quem se estava dependente, mas cuja dependência era sentida como uma inferioridade pessoal, da mesma forma a tristeza é sentida, mas negado o sentimento de perda. E, pela mesma razão, se instala um quadro depressivo.

O depressivo é um individuo com uma deficiência na auto-estima (no narcisismo para ser mais correcto). A sua representação e o seu valor próprio é confirmado e avaliado pelos outros, sendo estes o espelho da sua imagem,os que constroem a sua representação e provocam admiração e o dito amor.

Já a depressividade não é idêntica à personalidade depressiva corrente; precisamente, pelos  sintomas comuns da última (quebra de energia, falta de esperança no Outro, no mundo). Pelo contrário, os doentes têm energia, mas é uma energia de esforço. São pessoas com uma forte tendência para idealizar os outros (mergulharem na fantasia narcísica). Sobrevivem da idealização dos outros, idolatrando o ente amado, que adoram e veneram (numa posição submissa e algo penosa). Não esperam, nem obtêm, em significativa medida, a retribuição devida e desejável. Agradecem o simples facto de poderem amar. São felizes fazendo os outros felizes; felizes – à sua maneira, abdicando do desejo próprio que quase ignoram. Vivem, pois, num amor não correspondido. O que, necessariamente, é deprimente. Mas não sentem, não vivem a depressão.

No Eu destas pessoas padece um vazio existencial que necessita de um amor para o seu preenchimento estrutural, estruturado e estruturante. Mas o sujeito, o Eu, ignora essa necessidade; e, consequentemente, não procura satisfazê-la. Como resultado da insatisfação existente mas ignorada, gera-se uma raiva imensa apenas sentida como tensão, desconforto ou irritabilidade – ou nem sequer sentida – e quase sempre não reconhecida, não ligada a eventos, pessoas ou propósitos.

São extremamente inseguros e muito dependentes, embora a dependência seja pouco notada, porque encoberta pelos comportamentos de cuidar dos outros.

Em suma, «o melancólico não sabe o que lhe falta, mas sabe que lhe falta algo (um amor envolvente, sabemo-lo hoje em dia). O pré-depressivo não sabe sequer que lhe falta algo – apenas ficou, quando ficou, a sensação corporal vaga de um mal-estar indefinido.» (Matos, A.C.)

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