Um dos conceitos mais associados ao pai da psicanálise, Sigmund Freud, pondo de parte questões mais sexualizadas (por agora), é, sem dúvida, um dos componentes do aparelho psíquico – o (In)consciente.
O inconsciente freudiano, tal como o nome indica, refere-se ao que não é acessível à consciência humana, podendo ser equiparado a um reservatório de memórias reprimidas de acontecimentos traumáticos, assim como de impulsos geradores de ansiedade, atendendo à sua indesejabilidade social percepcionada pelo indivíduo.
Todavia, é de realçar que toda esta complexidade do aparelho psíquico humano apresenta as suas lacunas e, por vezes, material inconsciente emerge até níveis de consciência, fazendo-nos passar as ditas situações de vergonha social.
Tomemos como exemplo a seguinte situação:
O João e o Paulo são colegas de trabalho numa empresa. Numa noite, depois do trabalho, o João convida o Paulo para tomarem um copo e conversarem. No meio da conversa, o João confidencia ao seu amigo que anda a trair a sua mulher com uma colega deles do trabalho, a Sofia. O Paulo, não se querendo meter nessa triangulação relacional, evita explorar muito o tema. No dia seguinte, a mulher do João, a Helena, convida o Paulo e a mulher para irem jantar a casa deles. Quando o Paulo e a mulher chegam, a Helena cumprimenta-os, ao que o Paulo replica – “Está tudo bem Sofia, e contigo como vão as coisas?”.
Neste caso, encontramo-nos perante o clássico acto freudiano, ou como é trivialmente denominado, acto falhado ou erros linguísticos, que não são mais do que manifestações de material reprimido. Tal repressão ocorre ao nível inconsciente o difere da nossa tentativa de tentar esquecer um assunto que nos embaraçou num dado momento.
Previamente a uma explicação de como se mecanizam as repressões, considero relevante ter presente dois aspectos relativos à homestáse do psiquismo humano:
1- É necessário um investimento energético para o processamento e funcionamento das nossas cognições (pensamentos, memórias…)
2- Quando o nosso aparelho psíquico contém energia acumulada em demasia, é necessário descarregá-la para nos devolver o equilíbrio interno (tomamos como exemplo a forte necessidade, para quem a tem, de fumar um cigarro ou de beber um café para que o corpo responda positivamente e a pessoa se sinta bem consigo mesma)
Assim, caso das repressões ou recalcamento (mecanismo de defesa a ser tratado num futuro post) as memórias, que contêm uma grande porção de energia psíquica e não a podendo descarregar directamente devido ao consciente, tentam veicular tal energia até níveis superiores sob formas disfarçadas (sonhos, pensamentos neuróticos, actos falhados) como o sucedido no caso-exemplo que apresentei – em vez do Paulo chamar a mulher do seu amigo de Helena, chamou-a de Sofia (informação reprimida).
Em suma, a informação que recalcamos para níveis profundos do nosso psiquismo não passam, de forma generalista, de memórias e fantasias não compatíveis com a nossa percepção externa idealizada, com o nosso Eu (ego), que, ao necessitarem de libertar a energia contida oprimida pelo consciente, surgem sob um leque de formas como sonhos e sintomas neuróticos.
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