domingo, 21 de novembro de 2010

Uma questão de Inconsciência

Um dos conceitos mais associados ao pai da psicanálise, Sigmund Freud, pondo de parte questões mais sexualizadas (por agora), é, sem dúvida, um dos componentes do aparelho psíquico – o (In)consciente.

O inconsciente freudiano, tal como o nome indica, refere-se ao que não é acessível à consciência humana, podendo ser equiparado a um reservatório de memórias reprimidas de acontecimentos traumáticos, assim como de impulsos geradores de ansiedade, atendendo à sua indesejabilidade social percepcionada pelo indivíduo.

Todavia, é de realçar que toda esta complexidade do aparelho psíquico humano apresenta as suas lacunas e, por vezes, material inconsciente emerge até níveis de consciência, fazendo-nos passar as ditas situações de vergonha social.

Tomemos como exemplo a seguinte situação:
O João e o Paulo são colegas de trabalho numa empresa. Numa noite, depois do trabalho, o João convida o Paulo para tomarem um copo e conversarem. No meio da conversa, o João confidencia ao seu amigo que anda a trair a sua mulher com uma colega deles do trabalho, a Sofia. O Paulo, não se querendo meter nessa triangulação relacional, evita explorar muito o tema. No dia seguinte, a mulher do João, a Helena,  convida o Paulo e a mulher para irem jantar a casa deles. Quando o Paulo e a mulher chegam, a Helena cumprimenta-os, ao que o Paulo replica – “Está tudo bem Sofia, e contigo como vão as coisas?”.

Neste caso, encontramo-nos perante o clássico acto freudiano, ou como é trivialmente denominado, acto falhado ou erros linguísticos, que não são mais do que manifestações de material reprimido. Tal repressão ocorre ao nível inconsciente o difere da nossa tentativa de tentar esquecer um assunto que nos embaraçou num dado momento.

Previamente a uma explicação de como se mecanizam as repressões, considero relevante ter presente dois aspectos relativos à homestáse do psiquismo humano:
1- É necessário um investimento energético para o processamento e funcionamento das nossas cognições (pensamentos, memórias…)
2- Quando o nosso aparelho psíquico contém energia acumulada em demasia, é necessário descarregá-la para nos devolver o equilíbrio interno (tomamos como exemplo a forte necessidade, para quem a tem, de fumar um cigarro ou de beber um café para que o corpo responda positivamente e a pessoa se sinta bem consigo mesma)

Assim, caso das repressões ou recalcamento (mecanismo de defesa a ser tratado num futuro post) as memórias, que contêm uma grande porção de energia psíquica e não a podendo descarregar directamente devido ao consciente, tentam veicular tal energia até níveis superiores sob formas disfarçadas (sonhos, pensamentos neuróticos, actos falhados) como o sucedido no caso-exemplo que apresentei – em vez do Paulo chamar a mulher do seu amigo de Helena, chamou-a de Sofia (informação reprimida).

Em suma, a informação que recalcamos para níveis profundos do nosso psiquismo não passam, de forma generalista, de memórias e fantasias  não compatíveis com a nossa percepção externa idealizada, com o nosso Eu (ego), que, ao necessitarem de libertar a energia contida oprimida pelo consciente, surgem sob um leque de formas como sonhos e sintomas neuróticos.

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