Como havia referido no post anterior, somos, por vezes, confrontados por conflitos intra-psíquicos geradores de angústia e ansiedade.
Cabe-nos a nós (ao nosso ego) de criar certas estratégias defensivas para tentar reduzir essa tensão que perturba a homeostáse (o equilibro) do nosso aparelho psíquico.
A estas estratégias chamamos de Mecanismos de Defesa do Ego.
Para elucidar melhor quais são os mecanismos geralmente mais utilizados, recorrerei a casos práticos do nosso quotidiano.
Assim sublinho:
1 – Recalcamento: o indivíduo transporta para níveis inconscientes os desejos e sentimentos que não permite que sejam acessíveis à sua consciência. Este tipo de informação transparece, posteriormente, de forma disfarçada de sonhos, actos falhados, sintomatologia neurótica. É exemplo disso um paciente se esquecer de fazer uma tarefa geradora de ansiedade que o terapeuta lhe recomendou.
2- Racionalização: o indivíduo justifica, de forma racional, o seu comportamento inadequado, diluindo a componente emocional de uma situação geradora de ansiedade ou de angústia. Como exemplo: um homem justifica um roubo a uma loja por o dono da mesma não se encontrar no balcão para o atender.
3- Regressão: o indivíduo adopta modos de pensamento e de comportamentos característicos de uma fase de desenvolvimento anterior. Este tipo de mecanismo verifica-se com bastante regularidade em crianças que acabaram de ter um irmão. Uma criança que já tinha adquirido o controlo esfincteriano, perante o nascimento de um irmão que lhe retira uma porção da atenção dos pais, volta ao seu quadro de, por exemplo, enurese, recomeçando a urinar na cama.
4- Projecção: com este mecanismo, o indivíduo atribui aos outros os seus próprios desejos e ideias que não consegue integrar no seu consciente. É, provavelmente, o mecanismo mais utilizado e pode ser explicado pelo clássico exemplo de uma pessoa apontar críticas e defeitos a outra quando é a própria que tem esses mesmos defeitos.
5- Deslocamento: pela via do deslocamento, o individuo transfere impulsos e emoções do seu objecto-alvo para um objecto substituto. É também um clássico dos mecanismos na psicologia infantil que pode ser ilustrado por uma criança que, após uma discussão com os pais, bate nos seus bonecos com cólera.
6- Sublimação: neste mecanismo, o indivíduo substitui, novamente, o objecto-alvo mas com o objectivo das suas emoções e impulsos (pulsões) se poderem manifestar de uma forma socialmente aceite. Como exemplo, pode ser referido o caso de um pirómano que ingressa no corpo de bombeiros ou um anti-social no corpo da polícia.
7- Formação Reactiva: com esta estratégia, o indivíduo resolve os conflitos adoptando uma postura oposta às suas pulsões (à sua vontade). Clássicos exemplos de pessoas que se afastam de quem gostam, pessoas que falam num tom amistoso para quem odeiam.
8- Negação: tentativa do indivíduo em não integrar no Ego informação que lhe causa angústia e ansiedade. Para ilustrar este exemplo, basta pensar na primeira fase do luto onde a pessoa nega a perda da pessoa amada.
9- Introjecção: mecanismo oposto à projecção, onde o indivíduo aceita os conteúdos de projecção como verdades do ego, integrando essa informação para si mesmo. Veja-se o caso da depressão onde a introjecção de conteúdos de culpabilidade é bem visível.
10- Compensação: com este mecanismo, o indivíduo compensa alguma característica pessoal que considere deficitária, por um outro atributo que o faça sentir-se mais agradável. Uma pessoa que se considere fisicamente feia, poderá elevar-se por estar a tirar Medicina ou por ter grandes fundos monetários.
Existem muitos outros mecanismos de defesa, contudo não pretendo, de modo algum, uma aula teórica sobre este tema e sim, apenas elucidar, de uma forma mais ou menos prática, a complexidade do nosso aparelho psíquico e as estratégias por ele usado quando nos confrontamos com conflitos que visam atingir a integridade do nossa estrutura, do nosso ego.
Saliento, mais uma vez, que estas estratégias defensivas ocorrem a um nível inconsciente.
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