Como foi explicado no post anterior, o Complexo de Édipo ocorre, mais ou menos, por volta dos 3-5 anos de idade, quando o pai quebra o forte laço afectivo da criança pela mãe, impondo certos limites como, por exemplo, ao mandar o filho ir dormir para a sua própria cama porque já não tem idade para dormir com os pais.
Édipo na Psicopatia
Sejam psicopatas ou não, várias são as crianças que passam pelo Complexo de Édipo. O que determina possíveis desvios e discrepâncias entre a normalidade e a psicopatia é a resolução desse mesmo complexo. Ou seja, tal como um indivíduo normal, um psicopata, na sua fase edipiana, manifesta grandes sentimentos afectivos pela sua mãe e o pai, à semelhança de muitos outros, também se apresenta como figura de autoridade, impondo regras e limites.
As diferenças que podemos encontrar nestes casos, não são tanto ao nível da figura paterna mas sim da figura materna. O pai impõe regras e limites ao filho (colocando, por exemplo, na sua cama), o filho apreende essas regras e limites, contudo, estamos perante uma mãe sedutora que, quando o pai não está presente, dirige-se ao quarto do filho e o leva, novamente, para a cama.
Desta forma, a criança forma a seguinte representação: “existem leis, normas e limites, existem castigos quando a lei não é cumprida, mas… existem, igualmente recompensas quando se foge à lei, principalmente quando a figura de autoridade (pai/sociedade) não se encontra a observar”.
Em suma, um psicopata é um individuo aparentemente normal, que conhece as regras, contudo não sente culpa (adquirida no complexo de édipo) e, além disso, sabe que o desvio à lei poderá trazer recompensas.
Apresento, em seguida, o caso de um dos mais famosos psicopatas – Ed Gein – cuja sua história inspirou diversos filmes de terror, nomeadamente Psycho e Massacre no Texas. No desenrolar da sua biografia, diversos são os pontos que são realçados e que fazem prever, segundo o que foi teorizado anteriormente, o desenvolvimento de uma psicopatia marcada por fixações na fase edipiana. Deixo ao leitor, a tarefa de esmiuçar este mesmo caso, encontrado os referidos pontos sintomatológicos.
Ed Gein no divã
Edward Theodore Gein, mais conhecido como Ed Gein, nasceu a 27 de Agosto de 1906 na cidade de Plainfield, Winsconsin, EUA. Ele morava numa quinta em Plainfield, com o seu irmão Henry, cinco anos mais velho, a sua mãe Augusta e o seu pai George, que era alcoólico e não se importava com a educação dos filhos. A mãe sempre foi a figura dominante ao longo de toda a vida de Gein e o pai apenas uma figura débil e carente de opinião.A infância de Ed desenrolou-se debaixo do fanatismo religioso da sua mãe que considerava que todas as pessoas eram uma má influência para os seus filhos, motivo pelo qual comprou a quinta para manter os seus filhos afastados de toda a perversidade do mundo. As mulheres eram o grande pecado, o caminho para a perdição, pois todas, à excepção dela, eram pecaminosas e impuras. Assim Augusta Gein, fanática religiosa, moralista e dominadora, para além de obrigar os filhos a trabalhar única e exclusivamente na quinta, proibia-os de manter qualquer contacto com mulheres e afirmava que o sexo apenas deveria existir para fins reprodutivos. Todos os dias, a mãe de Gein lia sermões do antigo testamento aos seus filhos, sobre os castigos de Deus.
Em 1940 o pai de Ed morre e em 1944 segue-se o seu irmão. Na data havia ocorrido uma discussão entre os dois irmãos, em que Henry adverte o irmão para os abusos por parte da mãe, enquanto Ed rejeita esta ideia pois considerava a sua mãe uma santa, uma bondade suprema. A verdade é que Henry morreu em circunstâncias misteriosas, ele e Ed saíram para combater um incêndio que se espalhava pela quinta.
Segundo Ed, o seu irmão teria morrido intoxicado pelo fumo. Mas o corpo de Henry apresentava escoriações no rosto, e foi encontrado num local intocado pelo fogo.
Agora, tudo que Ed tinha era a sua mãe e ela era tudo que ele precisava. Porém, em 29 de Dezembro de 1945, Augusta Gein morre após uma série de enfartes, ficando Ed a morar sozinho. Ed ficou extremamente abalado com a perda da mãe, a qual havia idolatrado apesar do seu comportamento dominador e abusivo. Foi, então, que a sanidade de Ed Gein começou a degenerar-se. Ed começou a estudar a anatomia feminina, mais particularmente a região genital.
Mas ler livros de anatomia não foi suficiente para Ed Gein, ele sentiu vontade de aplicar na prática os seus estudos. Passou a ler o obituário no jornal, e interessava-se particularmente pelo anúncio da morte de mulheres na faixa etária da sua mãe quando esta morreu.
Com a ajuda de um amigo, Gus, Ed começou a frequentar os cemitérios locais, exumar os corpos recém enterrados (previamente escolhidos pelo obituário) e levá-los para a sua casa, algumas vezes carregando os corpos inteiros e outras, apenas partes deles, satisfazendo assim as suas fantasias relativas à necrofilia e canibalismo.
Ed realizava experimentos com os corpos recém- desenterrados, dissecava-os, e removia a pele para costurar uma roupa de mulher, com seios e vagina, que ele usava em estranhos rituais em noite de lua cheia, para se sentir mulher, saber como é ter seios e vagina. Colocava, igualmente, os órgãos genitais femininos na roupa interior que vestia.
Dizem que Ed empalhou o corpo da sua própria mãe e se masturbava sobre o seu corpo, e ainda que ele teria removido sua pele para usa-la em seus rituais. Às vezes Ed vestia também as roupas da mãe, e ficava perambulando pela casa. Ed tinha os costume de confeccionar móveis e objetos feitos de pele, partes de corpos e ossos.
Mais tarde, começou a matar mulheres com idade e semelhanças físicas à sua mãe, alegando que era a própria que, através de vozes, o incentivava a matar.
A primeira vítima foi Mary Hogan, dona do bar que ele frequentava, em Dezembro de 1954. No mês de Novembro de 1957, Ed Gein voltou a atacar. Desta vez foi Bernice Worden dona da loja de ferragens que ele costumava frequentar. O corpo de Bernice foi encontrado despido e decapitado com um corte que ia da vagina até o pescoço, pendurado de cabeça para baixo num gancho de açougueiro e amarrado com cordas. Os seus intestinos e órgãos foram encontrados dentro de uma caixa e o seu coração estava num prato na sala de jantar.
Contudo, neste último homicídio acabou por deixar pistas que acabaram por o denunciar, deixou o seu camião estacionado à frente do local do crime toda a noite.
Ed Gein foi preso em 1957 em Plainfield, nos Estados Unidos.
Na sua residência, mediatizada como “a casa dos horrores”, a polícia encontrou um crânio usado como tigela de sopa; um tambor feito com pele humana; um corpo decapitado e cortado ao meio, pendurado no quintal; narizes num copo; um par de lábios pendurados num fio; um coração humano no forno; um cinto feito de mamilos; partes de diversos órgãos no frigorífico, extraídos de quinze corpos femininos diferentes; e nove vulvas dentro de uma caixa de sapatos.
Ed confessou que gostava de se vestir com as roupas e máscaras confeccionadas de pele humana e fingir ser a sua própria mãe.
Declarou, igualmente, que não se lembrava, ao todo, quantos assassinatos havia cometido.
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